45 anos de Ipea

Nesta quarta, no auge de sua decadência, para usar uma expressão evidentemente provocativa, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada completa seus 45 anos existência institucional. Devido às recentes falhas metodológicas, a data comemorativa não poderia ser a pior. Em 1964 fora essa instituição uma das primeiras crias do governo militar. Ainda hoje continua prestando serviços de valor inestimável ao país. Contribuíram com as pesquisas aplicadas boa parte dos melhores economistas brasileiros, como revela este belo estudo documental. Vejo, no entanto, que é hora de buscar maior interdisciplinaridade, para que erros absurdos como aquela comparação de produtividade sejam evitados. Que o próximo presidente afaste o Ipea da influência política! Que seus estudos estejam sempre abertos à crítica científica! – posto que ciência nenhuma é axiologicamente neutra. O papel dessa instituição não é advogar pelas políticas públicas, mas fornecer informações confiáveis aos decisores – estejam eles no executivo, no legislativo ou mesmo em grupos externos ao aparato burocrático. Vida longa ao nosso Ipea.


Respostas de 2 a “45 anos de Ipea”

  1. Se “nenhuma ciência é axiologicamente neutra”, como pode o IPEA não sofrer interferência política e seus estudos?
    Concondo com vc que não é possível comparar a iniciativa privada com a pública quando a questão é produtividade, já que os objetivos são muito diferentes. Entretanto, a pesquisa do IPEA mostra outros dados que desmentem tudo aquilo que a mídia brasileira( os meios de ocmunicação em geral) propalava, de que o setor público é improdutivo e ineficiente. A pesquisa mostrou justamente o contário, e era de se esperar, afinal é no setor público se concentram os melhores cientistas, professores e pesquisadores( nas Universidades), melhores administradores e mão de obra mais qualificada( porque tem tempo e dinheiro para isto). Desde 1988 a seleção e qualificação do setor público tem sido, via de regra, mais eficiente que no setor privado, sobretudo na administração federal e o resultado é que hoje temos profissionais muitos qualificados seja nos poderes executivo, legislativo e judiciário.

  2. São dois pontos.

    1) Nenhuma ciência e nenhuma instituições são neutras. O propósito do IPEA é pragmático: orientar as políticas públicas. Então deve haver um esforço para afastar o viés ideológico da pesquisa. Uma coisa é teoria, outra, dependente dessa, é pesquisa empírica. Neste última devemos, sim, cobrar um esforço de neutralidade.

    2) Afirmar que a mídia mente levaria a outra discussão. O fato é que a pesquisa do IPEA não desmente nada. Você quer acreditar nisso e está buscando outras possíveis evidências, como os pesquisadores nas universidades públicas, a qualidade da mão de obra etc. A pesquisa do IPEA não foi buscar esse tipo de dado. Ela só mede execução orçamentária e número de empregados. Leia com atenção a pesquisa, faça esse exercício.

    Não sou contra a produtividade do Estado. Minha história mostra que sou grande defensor da gestão pública de excelência e voltada aos cidadãos. Mas, por honestidade intelectual, sinto-me obrigado a refutar os erros da referida pesquisa.

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