Produtividade no setor público e no setor privado, a pesquisa do IPEA

Fonte: agenciasindical.com.br
Fonte: agenciasindical.com.br

A FENEAP e  boa parte da mídia divulgaram a recente pesquisa do IPEA sobre a produtividade nos setores público e privado. Os resultados espantaram o leitor atento: em 2006, o Estado foi 46% mais produtivo do que o mercado. No entanto, há um erro de concepção sobre a produtividade. Tal erro considera a arrecadação de impostos como um fator que contribuir para a produtividade, pois faz referência ao faturamento industrial. Este é um exemplo de metodologia equivocado que produz uma pseudo-ciência. O Ipea chama de conhecimento algo que não passa de uma pesquisa experimental, adaptando metodologia do setor industrial para uma área em que o faturamento não significa produção, ao mesmo tempo em que o corte de funcionários não significa aumento de produtividade.

Marcio Pochmann assumiu que:

Produtividade = Execução Orçamentária / Ocupação do Trabalho.

Ou seja, ele tentou de modo equivocado transpor o conceito da economia industrial para a complexa realidade dos serviços públicos. Disso concluiu e divulgou para mídia despreparada que Estados que buscaram modernizar a gestão, como Minas Gerais, foram menos produtivos.  Eles erraram. É possível medir a produtividade real do governo mineiro sob diversos outros ângulos. No serviço público, o produto muitas vezes é dependente da performance do funcionário, no momento da prestação do serviço.

O fato é que tanto Estado como o Mercado são dois espaços gigantescos de produção e repletos de setores cujas especificidades de maneira alguma podem ser compiladas em pacotes, e esses pacotes nem menos podem ser ancorados sobre uma balança para compará-los.

Um Estado que demanda mais segurança pública ou educação, por exemplo, certamente requer mais funcionários do que um Estado cujo dilema é incentivo ao desenvolvimento turístico. Não é como uma indústria. A questão não é lucro versus número de funcionários, nem Execução da Receita versus Servidores Públicos, como sugerido pelo IPEA.

O raciocínio de Pochmann (quanto menos funcionários e mais execução orçamentária, tanto mais produtivo é o Estado) não é válido. O proposto indicador de produtividade não é útil para nada, não é parâmetro de comparação com nenhuma outra informação; eis, portanto, vazio em seu significado: uma armadilha numérica. Não importa que tenha coletado os dados sobre a ocupação de trabalho no setor público do IBGE, pois a pesquisa está equivocada desde sua concepção, desde o esquema “Orçamento Executado / Número Funcionário = Produtividade”.

A repercussão da notícia em uma série de listas de emails e comunidades virtuais, a meu ver, reflete a falta de senso crítico na leitura, até mesmo de universitários capacitados em áreas de ciências sociais aplicadas. Sinaliza também (não esqueçam!) a irresponsabilidade de um instituto oficial divulgar uma tão descabida pesquisa.

Upgrade: A discussão se expandiu para o blog da jornalista Miriam Leitão, aqui. Confira o que o técnico do Ipea revela nos comentário de um outro blog, de Cristiano Costa. Neste fórum, a confusão na discussão continua aparente.

Upgrade 2: Equipe do Senador Tasso Genro entra no ringue.

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Respostas de 5 a “Produtividade no setor público e no setor privado, a pesquisa do IPEA”

  1. Muito bem colocado Leandro!
    As constantes tentativas da esquerda situacionista no país atualmente de demonizar o pensamento liberal e uma gestão privada mais eficiente do ponto de vista empresarial é nada mais que uma forma de tentar buscar justificativas para um estado fraco e ineficaz.

  2. […] dos gritantes erros metodológicos da pesquisa sobre produtividade no setor público, apontadas aqui, eis que o Ipea novamente ganha a luz negra da discussão, após o estudo sobre capacidade dos […]

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